Parto Prematuro: Causas, Riscos e Impactos no Desenvolvimento Infantil
Baseado no Manual do Ministério da Saúde

Parto Prematuro: Causas, Riscos e Impactos no Desenvolvimento Infantil

O parto prematuro é uma das principais causas de mortalidade e morbidade neonatal no Brasil e no mundo. Este guia apresenta informações baseadas no Manual de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde sobre causas, fatores de risco, tratamento e impactos no desenvolvimento infantil.

O que é Parto Prematuro?

Definição

O parto pré-termo é aquele que ocorre em até 36 semanas e 6 dias de idade gestacional, excluindo o período considerado como de abortamento.

📊 Dados Epidemiológicos

  • Sua ocorrência é grande em todo mundo
  • No Brasil, está em torno de 11%
  • As complicações da prematuridade são a maior causa de morte neonatal
  • O Brasil ocupa o nono lugar em número absoluto de partos prematuros no mundo

Principais Causas de Partos Pré-Termo

São três as principais causas de partos pré-termo:

1. Trabalho de Parto Prematuro

Início espontâneo de contrações uterinas antes de 37 semanas.

2. Rotura Prematura Pré-Termo das Membranas Ovulares

Rompimento da bolsa amniótica antes do início do trabalho de parto e antes de 37 semanas.

3. Prematuridade Terapêutica

Quando alguma condição mórbida materna e/ou fetal ocasiona a antecipação do parto.

Patogênese e Fatores de Risco

Natureza Multifatorial

A patogênese (causa) do trabalho de parto prematuro não é totalmente conhecida, havendo consenso que se trata de um quadro sindrômico, de origem multifatorial, em que múltiplos fatores, causais ou associados, interagem de forma complexa, o que torna mais difícil elaborar estratégias de prevenção.

⚠️ Principal Fator de Risco

O antecedente de parto pré-termo espontâneo é um fator de grande importância na identificação de risco em uma gravidez subsequente, sendo essa informação essencial no pré-natal.

Outros Fatores de Risco Associados

Fatores Obstétricos e Reprodutivos

  • Intervalo interpartal curto (menor que 18 meses)
  • Gravidez múltipla
  • Polidrâmnio
  • Malformações uterinas e fetais
  • Lesões mecânicas no colo uterino (como conização)

Fatores Maternos

  • Baixo índice de massa corpórea
  • Anemia
  • Sangramento por via vaginal no início da gestação

Fatores Psicossociais

  • Situações sociais desfavoráveis
  • Estresse materno (físico e/ou mental)
  • Depressão e ansiedade

Fatores de Estilo de Vida

  • Tabagismo
  • Etilismo
  • Uso de substâncias psicoativas

Fatores Infecciosos

  • Doença periodontal
  • Vaginose bacteriana
  • Bacteriúria assintomática
  • Infecção do trato urinário (incluindo pielonefrite)

Tratamento: Tocolíticos

Medicamentos que Inibem as Contrações Uterinas

Tocolíticos são medicamentos que inibem a contração uterina.

Duração do Tratamento

São preconizados por até 48 horas, sendo úteis para evitar o parto nesse período e, possivelmente, por até 7 dias.

Limitações

Porém, não reduzem de forma significativa:

  • A ocorrência de parto pré-termo
  • A mortalidade neonatal
  • A morbidade neonatal

✅ Benefício do Ganho de Tempo

Esse ganho de tempo é considerado benéfico para:

  • Garantir tempo adequado para administração de corticosteroide
  • Transferência da gestante para uma instituição com maiores recursos antes que ocorra o parto prematuro

Contraindicações ao Uso de Tocolíticos

⚠️ Quando NÃO Usar Tocolíticos

O uso de medicamentos que inibem as contrações uterinas é contraindicado quando os riscos maternos e/ou fetais de prolongar a gravidez ou os riscos associados à utilização de uterolíticos superarem os riscos decorrentes de um parto pré-termo.

Principais Contraindicações

  • Morte fetal intrauterina
  • Anomalia fetal letal
  • Vitalidade fetal alterada
  • Quadros hipertensivos graves (incluindo pré-eclâmpsia com achados graves)
  • Hemorragia materna com instabilidade hemodinâmica
  • Corioamnionite
  • Doenças cardíacas graves

Classificação da Prematuridade

Subcategorias do RN Prematuro (OMS, 2012)

A idade gestacional ao nascer determina a base das subcategorias:

  • Pré-termo extremo: <28 semanas
  • Muito pré-termo: 28 a <32 semanas
  • Pré-termo moderado: 32 a <37 semanas
  • Pré-termo tardio: 34 a <37 semanas

⚠️ Nascimentos Prematuros de Alto Risco

São aqueles que ocorrem com 32 semanas de gestação, ou menos, de bebês com peso inferior a 1.500g (RNMBP - Recém-Nascido de Muito Baixo Peso).

Impactos da Prematuridade no Desenvolvimento Infantil

🚨 Prematuridade: Principal Causa de Morte Infantil

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a prematuridade é considerada a principal causa de morte em crianças nos primeiros 5 anos de vida no Brasil.

Além disso, a carga de doenças na população, atribuída ao nascimento prematuro é medida em anos de vida perdidos somados aos anos de vida vividos com incapacidade, revela a condição da prematuridade e suas complicações como muito relevante no Brasil.

Consequências a Longo Prazo

Nas Crianças que Sobrevivem

A prematuridade aumenta o risco de condições crônicas:

  • Alterações nos padrões de crescimento desde o período neonatal
  • Atrasos no desenvolvimento sensorial, motor e cognitivo
  • Problemas psíquicos com todas as consequências associadas
  • Risco aumentado de diabetes tipo II
  • Risco aumentado de doenças cardiovasculares

Impactos em Recém-Nascidos de Muito Baixo Peso (RNMBP)

⚠️ Problemas Neurossensoriais e Cognitivos

Uma proporção de 10% a 15% apresentam problemas graves neurossensoriais:

  • Cegueira
  • Surdez
  • Paralisia cerebral

30-60% apresentam:

  • Deficiências cognitivas
  • Incapacidade de aprendizado
  • Anomalias da linguagem

Um número elevado desses bebês apresenta deficiências mais sutis, como as de aprendizagem, e distúrbios de comportamento.

Problemas de Comportamento Comuns

  • Déficit de atenção
  • Hiperatividade
  • Timidez excessiva
  • Retraimento excessivo

📊 Saúde Mental

Cerca de 29% das crianças e adolescentes RNMBP exibiram, no mínimo, um problema de saúde mental.

De fato, crianças RNMBP são duas vezes mais propensas a desenvolver:

  • Distúrbios de hiperatividade e déficit de atenção
  • Transtornos de espectro autista

Em comparação com as crianças nascidas a termo.

Complicações Clínicas em Bebês RNMBP

⚠️ Fragilidade Clínica

Bebês RNMBP são clinicamente frágeis e podem sofrer de diversas complicações:

  • Síndrome de sofrimento respiratório
  • Hemorragia intraventricular (sangramentos no cérebro)
  • Retinopatia do prematuro (crescimento anormal dos vasos sanguíneos do olho)

Muitas vezes, continuam a vivenciar problemas de saúde física que podem demandar:

  • Visitas médicas frequentes
  • Novas hospitalizações nos primeiros anos de vida

Isso pode limitar sua participação em atividades normalmente associadas à infância e influir sobre o desenvolvimento de suas habilidades sociais.

Impacto nos Pais

Desafios Parentais

A interação com esses bebês pode ser difícil para os pais por causa de:

  • Sua fragilidade
  • Sua irritabilidade
  • Sua falta de reatividade ao ambiente social

Sofrimento Emocional Parental

Muitos pais experimentam sofrimento emocional após o nascimento de um bebê RNMBP, o que pode afetar o comportamento parental.

A ansiedade materna avaliada durante a hospitalização do bebê nas unidades de cuidados neonatais intensivos (UCNI) foi associada a:

  • Comportamentos parentais menos eficazes no início da vida do bebê
  • Impactos na idade pré-escolar

Referências

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 692 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. 302 p.
  3. Sociedade Brasileira de Pediatria. Prematuridade. Disponível em: https://sbp.com.br/fileadmin/user_upload/DocCient-Neonatol-SBP_Prematuridade_18112019_1_.pdf
  4. Zelkowitz, P.; Doutora, E. Prematuridade e seu impacto sobre o desenvolvimento psicossocial e emocional da criança. Disponível em: https://portalboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/04/prematuridade-e-seu-impacto-sobre-o-desenvolvimento-psicossocial-e-emocional-da-criança.pdf

Este artigo é de caráter informativo e baseado nas diretrizes oficiais do Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria. Para orientações específicas sobre seu caso, consulte seu obstetra ou pediatra.