Massas Anexiais e Torção Ovariana: Diagnóstico e Manejo Completo
Baseado nas Diretrizes da FEBRASGO

Massas Anexiais e Torção Ovariana: Diagnóstico e Manejo Completo

As massas anexiais, que acometem tubas uterinas, ovários ou tecido conjuntivo adjacente, são um problema comum na ginecologia e podem estar presentes em todas as faixas etárias. Este guia apresenta as diretrizes atualizadas para diagnóstico, avaliação e manejo dessas condições, com ênfase especial na torção ovariana, uma emergência ginecológica.

O que são Massas Anexiais?

Massas anexiais são alterações que acometem:

  • Tubas uterinas
  • Ovários
  • Tecido conjuntivo adjacente

Podem ser diagnosticadas a partir de:

  • Alteração do exame físico
  • Queixa da própria paciente
  • Achado ocasional de exame de imagem

Objetivos Iniciais da Propedêutica

  • Identificar a provável etiologia
  • Diferenciar quadros agudos que demandam rápida intervenção
  • Identificar casos sugestivos de malignidade

Ultrassonografia Transvaginal: Exame de Primeira Linha

A Propedêutica Mais Eficaz

A ultrassonografia transvaginal (USTV) é a técnica de imagem mais utilizada e eficaz para avaliação das massas anexiais.

O que o Exame Deve Avaliar

  • Tamanho da massa
  • Composição: cística, sólida ou mista
  • Lateralidade
  • Presença ou ausência de septações
  • Excrescências papilares
  • Líquido livre na pelve

Dopplerfluxometria Colorida

Avalia as características vasculares das massas através do estudo do fluxo sanguíneo no ovário e no cisto.

Ultrassonografia Abdominal

É útil quando:

  • A massa se estende para além da cavidade pélvica
  • Não é possível realizar a ultrassonografia transvaginal

Características Suspeitas de Malignidade à USG

⚠️ Sinais de Alerta

  • Componente sólido nodular ou papilar que não é hiperecoico
  • Septações com espessura irregular (> 2 a 3mm)
  • Componente sólido com fluxo ao Doppler colorido
  • Presença de ascite
  • Massa peritoneal
  • Linfonodos aumentados (difícil detecção ao ultrassom)

Indicações Cirúrgicas

Quando a Cirurgia é Indicada

A cirurgia é realizada em caso de:

  • Suspeita de malignidade
  • Riscos associados à massa: torção, infecção
  • Massa sintomática

Tipos de Cirurgia

Para massas ovarianas pode ser realizada:

  • Ooforectomia: remoção do ovário
  • Cistectomia ovariana: remoção apenas do cisto

A escolha depende das características da lesão e da intenção de preservar a fertilidade.

Posicionamento Oficial da FEBRASGO

📌 Pontos-Chave

  • Massas anexiais ocorrem em mulheres de todas as faixas etárias e sua etiologia e frequência variam de acordo com a idade
  • A maior parte das massas anexiais são benignas, assintomáticas e diagnosticadas incidentalmente, podendo ser candidatas a uma conduta expectante
  • O diagnóstico diferencial entre massas tumorais benignas e malignas é fundamental
  • Os painéis de biomarcadores não são suficientes para a avaliação inicial de uma massa anexial
  • A ultrassonografia transvaginal é a propedêutica mais eficaz para a avaliação de uma massa anexial
  • Em caso de malignidade, o câncer de ovário é neoplasia de pior prognóstico e deve ser tratado rapidamente e em centro de referência em oncologia
  • Pacientes com câncer de ovário tratadas por um ginecologista oncológico apresentam melhor prognóstico

✅ Recomendações da FEBRASGO

1. Propedêutica Inicial

A ultrassonografia transvaginal (USTV) é a propedêutica mais eficaz para a avaliação de uma massa anexial.

2. Avaliação de Cistos Suspeitos

Os cistos ovarianos suspeitos devem ser avaliados pelo CA125 sérico e nova USTV.

3. Exames NÃO Recomendados Inicialmente

Tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) e tomografia por emissão de pósitrons (PET) não são recomendadas na avaliação inicial de massas anexiais.

4. Cuidados Cirúrgicos

O extravasamento do conteúdo do cisto deve ser evitado no pré e intraoperatório.

5. Biópsia por Congelação

As biópsias por congelação para o diagnóstico intraoperatório de uma massa anexial suspeita são recomendadas quando disponíveis.

6. Confirmação de Malignidade

Em casos de confirmação de malignidade à histologia, durante ou após a laparoscopia diagnóstica:

  • Deve ser realizado um relatório médico cirúrgico
  • Se possível com inclusão das imagens
  • Encaminhamento para um centro de referência em oncologia para tratamento adequado

7. Salpingectomia Oportunística

Considere a salpingectomia oportunística (no momento da ligadura tubária ou histerectomia) como uma cirurgia de baixo risco e eficaz para profilaxia de câncer de ovário.

Torção Ovariana: Emergência Ginecológica

⚠️ Atenção: Intervenção Urgente Necessária

A torção de ovário é uma das causas mais comuns de dor abdominal de origem anexial, ocorrendo em pacientes jovens e necessitando de intervenção o mais precocemente possível, na tentativa de manter a viabilidade do ovário comprometido.

O que é Torção Ovariana?

Manifesta-se quando o ovário e seu pedículo se enrolam no ligamento suspensor do ovário.

Quem Pode Ser Afetado?

  • Crianças: devido à excessiva mobilidade dos anexos
  • Mulheres adultas: quase sempre associado a uma massa ovariana sólida ou cística com grandes dimensões

Fator de Risco Principal

O risco é maior quando a massa medir entre 8 e 12 cm.

Quadro Clínico da Torção Ovariana

Sintoma Principal

Dor pélvica intermitente e unilateral que pode melhorar ou piorar com o posicionamento.

Sintomas Gastrintestinais (70% dos casos)

  • Náuseas
  • Vômitos

Importante: Esses sintomas podem induzir a uma confusão com:

  • Apendicite
  • Obstrução intestinal
  • Isquemia mesentérica

Os sintomas podem se prolongar por dias ou até semanas.

Exame Físico

  • Massa anexial palpável unilateral em até 70% dos casos
  • Pode apresentar rápido aumento devido à congestão vascular progressiva
  • Febre é incomum, ocorrendo apenas na presença de complicação, como na necrose do anexo envolvido

Diagnóstico da Torção Ovariana

Ultrassonografia + Doppler

Em geral, o diagnóstico é bem definido pela ultrassonografia (US) associada ao Doppler.

Os aspectos ultrassonográficos já foram descritos e são bem conhecidos.

Métodos Seccionais (TC e RM)

Restam aos métodos seccionais (tomografia e ressonância magnética) a indicação quando:

  • O quadro clínico for sugestivo de outras causas de dor abdominal (apendicite, diverticulite) - o que não é infrequente
  • A US não puder ser realizada (por exemplo, US endovaginal em pacientes virgens)
  • O resultado da US for inconclusivo

💡 Importância do Diagnóstico Precoce

A intervenção deve ser realizada o mais precocemente possível, na tentativa de manter a viabilidade do ovário comprometido.

O atraso no diagnóstico e tratamento pode resultar em:

  • Necrose do ovário
  • Perda irreversível da função ovariana
  • Necessidade de ooforectomia
  • Comprometimento da fertilidade

Referências

  1. Silva Filho, AL da. Protocolos e condutas em ginecologia e obstetrícia / Agnaldo Lopes da Silva Filho, Bárbara Flecha D'Abreu. 1. ed. Rio de Janeiro: Med Book, 2021. p.73.
  2. FEBRASGO. Massa Anexial Diagnóstico e Manejo (PT). Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/febrasgo-positionstatement/item/massa-anexial-diagnostico-e-manejo-pt-2 Acesso em: 2 ago. 2024.
  3. Febronio EM, Nunes TF, Cardia PP, D'Ippolito G. Torção ovariana: ensaio iconográfico com enfoque em achados de ressonância magnética e tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2012 Jul/Ago;45(4):225–229.

Este artigo é de caráter informativo e baseado nas diretrizes oficiais da FEBRASGO. Para orientações específicas sobre seu caso, consulte seu ginecologista.