A progesterona faz parte dos hormônios que controlam o ciclo menstrual, estão presentes em medicações para prevenir e tratar a ameaça de aborto, tratamento do sangramento uterino anormal e nos anticoncepcionais e na terapia hormonal da menopausa.

1. O que é a progesterona?

A progesterona é um hormônio esteroide produzido principalmente pelo corpo lúteo no ovário após a ovulação. Também pode ser sintetizada em menores quantidades pelas glândulas adrenais e pela placenta durante a gestação. Classifica-se como um progestagênio natural, distinguindo-se dos progestágenos sintéticos – frequentemente utilizados na prática clínica – por sua estrutura química e efeitos fisiológicos.

2. Funções fisiológicas da progesterona

a. No ciclo menstrual

Durante a fase lútea, fase após a ovulação, a progesterona promove a transformação do endométrio proliferativo em um endométrio secretor, essencial para a implantação embrionária. Sem fecundação, seus níveis caem, desencadeando a menstruação.

b. Na gravidez

A progesterona inibe contrações uterinas, modula o sistema imune materno e prepara as mamas para lactação. Sua produção passa a ser sustentada pela placenta a partir do primeiro trimestre.

c. No sistema nervoso central

Modula receptores GABA-A, influenciando diretamente o humor, o sono, a cognição e até mesmo a libido. A alopregnanolona, um metabólito da progesterona, é responsável por muitos desses efeitos.

d. Nos sistemas cardiovascular, ósseo e imunológico

A progesterona atua como agente anti-inflamatório, regula a resposta imunológica e colabora na manutenção da densidade mineral óssea, sendo crucial na perimenopausa e pós-menopausa.

3. Progestagênios sintéticos versus progesterona bioidêntica

A diferenciação entre os progestagênios sintéticos e a progesterona natural (micronizada ou bioidêntica) é vital. Os progestagênios sintéticos, embora eficazes para proteção endometrial quando associados a estrogênios, apresentam perfis diferentes em relação ao metabolismo hepático, efeitos sobre o humor, peso, perfil lipídico e risco cardiovascular.

A progesterona micronizada oral ou vaginal, por sua vez, tem sido associada a menor risco trombogênico, melhor tolerabilidade e mais compatibilidade com o eixo neuro-hormonal feminino.

Nem todas os progestogênios são iguais, eles diferem de acordo com sua origem, assim como pela afinidade por receptores progestogênicos, androgênicos, glicocorticoides e mineralocorticoides.

Classificação dos progestogênios:

  • Progesterona: progesterona natural
  • Retroprogesterona: didrogesterona
  • 17-OH-progesterona: ciproterona, medroxiprogesterona, clormadinona
  • 19-norprogesterona: trimegestona, promegestona
  • 19-nortestosterona: estranos(noretisterona), gonanos (levonorgestrel, desogestrel, gestodeno, norgestimato)
  • Espironolactona: drosperinona

Ação dos progestogênios:

  • Bloqueio da ovulação: progesterona, 19-norderivados, derivados da progesterona
  • Estrogênico: progesterona, 19-norderivados
  • Androgênico: 19-norderivados e derivados de progesterona
  • Masculinização do feto: 19-norderivados e derivados de progesterona
  • Relaxamento uterino: didrogesterona, progesterona e derivados de progesterona
  • Termogenicidade: progesterona, 19-norderivados e derivados de progesterona
  • Formação de coágulos: 19-norderivados e derivados da progesterona
  • Lípides: 19-norderivados
  • Atrofia adrenal: 19 – norderivados e derivados de progesterona

4. A prescrição clínica: quando indicar progesterona?

a. Síndrome pré-menstrual e transtorno disfórico pré-menstrual

Utilizamos progesterona para modular o humor, reduzir ansiedade e sensibilidade mamária, principalmente quando há deficiência lútea (o corpo lúteo não dura o tempo esperado, entre 10 e 15 dias em média).

b. Infertilidade

Na fase lútea deficiente, a progesterona é fundamental para viabilizar a implantação embrionária.

c. Menopausa e climatério

A adição de progesterona à terapia com estrogênio protege o endométrio. A escolha entre regime contínuo ou cíclico depende do perfil da paciente e de sua tolerância.

d. Distúrbios menstruais

Amenorreia, oligomenorreia ou ciclos anovulatórios crônicos em mulheres com hiperestrogenismo exigem contraposição ao estímulo endometrial.

e. Hiperplasia endometrial

A progesterona atua na reversão da hiperplasia simples ou complexa sem atipia, sendo indicada inclusive na vigilância de mulheres com risco aumentado de câncer endometrial.

f. Suporte à gravidez em risco

Na prática, é utilizada com frequência em casos de ameaça de abortamento, história de perdas gestacionais ou insuficiência lútea confirmada, apesar de não haver evidência científica robusta em relação ao resultado do uso.

5. Efeitos colaterais e contraindicações

A progesterona em doses elevadas pode causar sonolência, inchaço, cefaleia e alterações de humor em algumas mulheres. Deve-se evitar seu uso em pacientes com meningioma ativo ou história de eventos trombóticos graves (dependendo da via e formulação).

Contudo, na prática, a forma micronizada oral ou vaginal é amplamente bem tolerada.

Detailed vector of mouth and throat anatomy

6. Via de administração: qual escolher?

  • Oral (micronizada): boa biodisponibilidade, efeito sedativo leve, ideal para mulheres com insônia e ansiedade.
  • Vaginal: alta concentração endometrial com baixa concentração sistêmica. Excelente para terapia local.

7. Progesterona e humor: um dilema clínico

Muitas mulheres relatam piora do humor com o uso de certos progestagênios. É essencial compreender que o impacto sobre o GABA-A pode ser benéfico ou deletério, dependendo da susceptibilidade individual, dose, e tipo de progestagênio utilizado.

A progesterona natural, em doses ajustadas, tende a ser mais bem tolerada e pode até melhorar sintomas como insônia e irritabilidade.

8. Progesterona e sexualidade feminina

Em contraste com o estrogênio, que estimula o desejo sexual, a progesterona tem ação calmante e reguladora. Quando usada com precisão, pode restaurar o equilíbrio entre impulso e serenidade emocional. O excesso, contudo, pode reduzir a libido.

9. O futuro da progesterona: novos estudos e promessas

Estudos sobre receptores de membrana, seletividade de isoformas e novas formulações vêm ampliando a aplicação da progesterona. Drogas como a drospirenona (com perfil antimineralocorticoide) ou a trimegestona (altamente seletiva) têm trazido novas possibilidades terapêuticas.

Considerações finais

A progesterona é um hormônio multifacetado. Vai além da fertilidade: atua na proteção cerebral, cardiovascular, endometrial e emocional. Prescrever com consciência e sensibilidade é um ato clínico refinado, que exige não apenas formação técnica, mas empatia e escuta ativa.

Toda mulher merece uma abordagem hormonal que respeite sua biologia, sua história e seus sonhos. A progesterona, bem indicada, é uma ponte entre ciência e sensibilidade.

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