Minha experiência como sexóloga tem pouco mais de 10 anos, e logo no início da carreira atuando em sexologia tive alguns pacientes masculinos com transtornos sexuais classificados como parafilias e na grande maioria deles havia um transtorno psíquico maior por trás do evento sexual. 

Nas especializações que fiz, Terapia sexual e Sexualidade Humana, sempre éramos orientados a tomar cuidado com os possíveis abusadores, e evitar ficar no local sozinha com pacientes novos ou que suponhamos perigosos, assim como evitar agendá-los nos últimos horários.

Um dos primeiros pacientes parafílicos me encontrou pela internet, agendamos um horário, ele queria o último, já acendi a luz amarela, na época atendia em um sobrado com recepcionista do sexo masculino e com muita circulação de homens na recepção, o que supostamente inibiria qualquer tentativa mais ousada da parte de qualquer cliente. Esse cliente em particular chegava e ia ao banheiro para daí então aguardar na sala de espera, já na primeira consulta senti que havia mais que uma parafilia, a queixa de masoquismo (prazer associado a sensação de dor) escondia um homem frio, que referia não sentir nada, não conseguir sentir nada que as pessoas relatavam sentir, inclusive a perda de um filho, além disso, manifestava fetiche por couro. Como era casado e sua esposa não sabia de suas práticas queria encontrar uma solução.

Nessa época, na cidade onde trabalhava, estavam acontecendo ataques a psicólogas e dentistas onde elas eram estupradas e espancadas, algumas indo a óbito devido a severidade dos ferimentos, e o que as unia era que além de serem mulheres, geralmente marcavam o suposto cliente no ultimo horário e eram surpreendidas com o ataque.

Os encontros com o paciente masoquista eram semanais e havia sempre uma pressão para ser no último horário, no entanto, para ele sempre estava reservado o primeiro horário da tarde. Ser prudente na minha profissão nunca é demais.  Após algumas sessões, o diagnóstico já estava firmado, era um típico psicopata/sociopata, bem vestido, com alguma posse financeira, com uma família, teoricamente, pois precisamos acreditar na história contada. No entanto, mesmo com indícios do diagnóstico mantinha-se resistente em aceitar uma avaliação psiquiátrica ou trazer a esposa para uma sessão.

Numa das sessões, o cliente insistia em mostrar uma lesão causada por uma noitada sadomasoquista, fazendo inclusive menção em mostrá-la e prontamente reprovado e convidado a não mostrar a lesão, que pela menção localizadora era na coxa. Ter um homem, com diagnóstico de falta de remorso e prazer relacionado com receber e infligir dor, com a calça arriada numa sala fechada é o pesadelo de qualquer terapêuta seja ela médica ou psicóloga.

Por volta da sexta sessão, eu, que tinha cabelos artificialmente loiros pintei-os trazendo-os para a cor natural, castanho escuro, e minha surpresa não foi maior que a do referido cliente quando percebeu minha mudança. Sua primeira fala durante a sessão foi um questionamento reprovador sobre a mudança da cor do cabelo. O cliente passou a sessão inteira agitado, grosseiro, com alto nível de ansiedade e pouca motivação para falar sobre as experiências provocadas pelos exercícios prescritos, e novamente se negou a passar pela avaliação psiquiátrica. Depois daquele dia nunca mais nos vimos.

Semanas após nossa última sessão, conversando com uma colega sobre o maníaco dos consultórios que havia feito mais uma vítima, percebemos que todas as vítimas do maníaco eram mulheres relativamente jovens, brancas e loiras.

Fica o mistério no ar, será que esse cliente era o maníaco do consultório e que eu seria a próxima vítima?

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