A dor durante a relação sexual, conhecida medicamente como dispareunia, é uma queixa comum que afeta até 20% das mulheres em algum momento da vida. Uma das causas frequentemente negligenciadas é a cervicite – inflamação do colo do útero que pode causar desconforto significativo.
Como ginecologista e sexóloga com mais de 20 anos de experiência, vejo regularmente mulheres que sofrem com dor durante o sexo sem saber que pode estar relacionada a uma condição tratável como a cervicite. O diagnóstico precoce e tratamento adequado podem restaurar completamente o conforto e prazer sexual.
Neste artigo, vou explicar o que é cervicite, como ela causa dor na relação sexual, métodos de diagnóstico e opções de tratamento baseadas em evidências científicas.
*Importante: Este conteúdo tem caráter educativo. Sempre consulte seu ginecologista para diagnóstico e tratamento adequados.*
O que é Cervicite?
A cervicite é a inflamação do colo do útero (cérvix), a parte inferior do útero que se conecta à vagina. Esta condição pode ser aguda ou crônica e afetar mulheres de qualquer idade, sendo mais comum durante os anos reprodutivos.
Anatomia do Colo Uterino
Estrutura:
- Ectocérvix: Parte externa visível durante exame
- Endocérvix: Canal interno que conecta vagina ao útero
- Zona de transformação: Área de transição entre os epitélios
- Orifício externo: Abertura do canal cervical
Funções importantes:
- Barreira protetora contra infecções ascendentes
- Produção de muco cervical
- Passagem para espermatozoides
- Canal de parto durante o nascimento
Tipos de Cervicite
Cervicite aguda:
- Início súbito dos sintomas
- Inflamação intensa
- Geralmente infecciosa
- Resposta rápida ao tratamento
Cervicite crônica:
- Sintomas persistentes ou recorrentes
- Inflamação de longa duração
- Pode ser não infecciosa
- Tratamento mais complexo
Como a Cervicite Causa Dor na Relação Sexual
Mecanismos da Dor
Inflamação local:
- Edema (inchaço) do tecido cervical
- Aumento da sensibilidade
- Fragilidade dos vasos sanguíneos
- Resposta dolorosa ao toque
Alterações estruturais:
- Erosão do epitélio cervical
- Formação de úlceras superficiais
- Espessamento da mucosa
- Perda da elasticidade
Tipos de dor:
- Dor superficial: No início da penetração
- Dor profunda: Durante penetração completa
- Dor pós-coital: Após a relação sexual
- Sangramento: Pode acompanhar a dor
Fatores Agravantes
Durante a relação sexual:
- Atrito direto com o colo inflamado
- Pressão durante penetração profunda
- Movimentos vigorosos
- Posições que favorecem contato cervical
Outros fatores:
- Lubrificação inadequada
- Tensão muscular por antecipação da dor
- Ansiedade relacionada ao sexo
- Ciclo de dor-tensão-mais dor
Principais Causas de Cervicite
Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)
Chlamydia trachomatis:
- Prevalência: Causa mais comum em mulheres jovens
- Sintomas: Frequentemente assintomática
- Complicações: Doença inflamatória pélvica, infertilidade
- Diagnóstico: PCR, cultura
Neisseria gonorrhoeae:
- Características: Infecção bacteriana
- Sintomas: Corrimento purulento, dor
- Complicações: Disseminação sistêmica
- Resistência: Crescente aos antibióticos
Herpes simplex (HSV-1 e HSV-2):
- Manifestação: Úlceras dolorosas
- Recorrência: Episódios repetidos
- Diagnóstico: PCR, cultura viral
- Tratamento: Antiviral
Trichomonas vaginalis:
- Sintomas: Corrimento espumoso, odor
- Transmissão: Sexual
- Diagnóstico: Microscopia, PCR
- Tratamento: Metronidazol
Infecções Não Sexualmente Transmissíveis
Candidíase:
- Agente: Candida albicans principalmente
- Fatores de risco: Diabetes, antibióticos, gravidez
- Sintomas: Coceira, corrimento espesso
- Tratamento: Antifúngicos
Vaginose bacteriana:
- Causa: Desequilíbrio da flora vaginal
- Sintomas: Corrimento com odor
- Complicações: Pode ascender ao colo
- Tratamento: Metronidazol, clindamicina
Causas Não Infecciosas
Irritação química:
- Duchas vaginais: Produtos agressivos
- Espermicidas: Nonoxinol-9
- Preservativos: Látex ou lubrificantes
- Produtos de higiene: Sabonetes perfumados
Trauma físico:
- Relação sexual vigorosa
- Uso de brinquedos sexuais
- Procedimentos médicos
- Parto ou aborto
Alterações hormonais:
- Menopausa: Redução do estrogênio
- Amamentação: Hipoestrogenismo
- Contraceptivos hormonais: Alterações no muco
- Gravidez: Mudanças vasculares
Sintomas da Cervicite
Sintomas Principais
Dor durante relação sexual:
- Localização: Profunda, na pelve
- Intensidade: Variável, pode ser severa
- Momento: Durante ou após penetração
- Duração: Pode persistir após o sexo
Corrimento vaginal anormal:
- Cor: Amarelado, esverdeado ou purulento
- Odor: Pode ser forte e desagradável
- Quantidade: Aumentada
- Consistência: Variável conforme causa
Sangramento anormal:
- Pós-coital: Após relação sexual
- Intermenstrual: Entre menstruações
- Pós-menopáusico: Em mulheres na menopausa
- Quantidade: Geralmente leve a moderado
Sintomas Associados
Desconforto pélvico:
- Dor no baixo ventre
- Sensação de pressão
- Cólicas leves
- Desconforto ao urinar
Sintomas urinários:
- Urgência urinária
- Frequência aumentada
- Ardor ao urinar (disúria)
- Sensação de esvaziamento incompleto
Sintomas sistêmicos (casos severos):
- Febre baixa
- Mal-estar geral
- Fadiga
- Dor lombar
Diagnóstico da Cervicite
Exame Clínico
Anamnese detalhada:
- História sexual completa
- Sintomas e duração
- Métodos contraceptivos
- Medicações em uso
- Procedimentos ginecológicos recentes
Exame físico:
- Inspeção externa: Vulva e períneo
- Exame especular: Visualização do colo
- Toque vaginal: Avaliação da sensibilidade
- Toque bimanual: Palpação de órgãos pélvicos
Achados no Exame Especular
Sinais de cervicite:
- Eritema: Vermelhidão do colo
- Edema: Inchaço da mucosa
- Friabilidade: Sangramento ao toque
- Secreção purulenta: Saindo do orifício cervical
- Úlceras: Lesões na superfície
Exames Complementares
Coleta de material:
- Citologia oncótica: Papanicolaou
- Cultura: Para bactérias e fungos
- PCR: Para ISTs específicas
- Teste de pH: Papel indicador
Exames específicos:
- Chlamydia e gonorreia: PCR ou cultura
- Herpes: PCR, cultura viral
- Trichomonas: Microscopia, PCR
- Candida: KOH, cultura
Exames de imagem (quando indicados):
- Ultrassom pélvico: Avaliar complicações
- Ressonância magnética: Casos complexos
- Tomografia: Suspeita de abscesso
Tratamento da Cervicite
Tratamento Antimicrobiano
Chlamydia:
- Primeira linha: Azitromicina 1g dose única
- Alternativa: Doxiciclina 100mg 2x/dia por 7 dias
- Gravidez: Azitromicina ou amoxicilina
- Parceiro: Tratamento simultâneo obrigatório
Gonorreia:
- Primeira linha: Ceftriaxona 500mg IM dose única
- Combinado com: Azitromicina 1g VO
- Resistência: Teste de sensibilidade
- Parceiro: Tratamento simultâneo
Herpes:
- Primeiro episódio: Aciclovir 400mg 3x/dia por 7-10 dias
- Recorrência: Aciclovir 400mg 3x/dia por 5 dias
- Supressão: Aciclovir 400mg 2x/dia
- Alternativas: Valaciclovir, famciclovir
Trichomonas:
- Primeira linha: Metronidazol 2g dose única
- Alternativa: Metronidazol 500mg 2x/dia por 7 dias
- Resistência: Tinidazol 2g dose única
- Parceiro: Tratamento obrigatório
Tratamento de Suporte
Anti-inflamatórios:
- Ibuprofeno: 400-600mg 3x/dia
- Naproxeno: 250mg 2x/dia
- Diclofenaco: 50mg 2x/dia
- Duração: 5-7 dias
Analgésicos:
- Paracetamol: 500-1000mg 4x/dia
- Dipirona: 500mg 4x/dia
- Para dor severa: Tramadol (prescrição médica)
Cuidados locais:
- Banhos de assento: Água morna
- Compressas frias: Para reduzir edema
- Evitar irritantes: Duchas, produtos perfumados
- Roupas íntimas de algodão
Tratamento das Causas Não Infecciosas
Irritação química:
- Identificar e remover o agente causador
- Suspender duchas vaginais
- Trocar produtos de higiene
- Usar preservativos sem espermicida
Deficiência estrogênica:
- Estrogênio vaginal: Cremes, óvulos, anel
- Lubrificantes: À base de água
- Hidratantes vaginais: Uso regular
- Terapia hormonal sistêmica: Casos selecionados
Prevenção da Cervicite
Práticas Sexuais Seguras
Uso de preservativos:
- Consistente: Em todas as relações
- Correto: Colocação e remoção adequadas
- Qualidade: Produtos certificados
- Lubrificação: Compatível com preservativo
Redução de parceiros:
- Monogamia mútua: Ideal para prevenção
- Teste de ISTs: Antes de relações desprotegidas
- Comunicação: Sobre histórico sexual
- Vacinação: HPV quando indicada
Higiene Adequada
Cuidados diários:
- Limpeza externa: Água e sabonete neutro
- Evitar duchas: Internas
- Secar bem: Após banho
- Trocar absorventes: Frequentemente
Após relação sexual:
- Urinar: Remove bactérias da uretra
- Limpeza suave: Água morna
- Evitar produtos: Perfumados ou irritantes
- Observar sintomas: Nos dias seguintes
Fortalecimento da Imunidade
Estilo de vida saudável:
- Alimentação equilibrada: Rica em vitaminas
- Exercícios regulares: Melhoram imunidade
- Sono adequado: 7-8 horas por noite
- Gerenciamento do estresse: Técnicas de relaxamento
Suplementação (quando indicada):
- Vitamina C: Antioxidante
- Vitamina D: Função imunológica
- Probióticos: Saúde da flora vaginal
- Zinco: Cicatrização e imunidade
Complicações da Cervicite Não Tratada
Complicações Locais
Doença inflamatória pélvica (DIP):
- Ascensão da infecção: Útero, trompas, ovários
- Sintomas: Dor pélvica intensa, febre
- Complicações: Abscesso, aderências
- Tratamento: Antibióticos IV, cirurgia
Infertilidade:
- Obstrução tubária: Aderências nas trompas
- Dano ovariano: Redução da reserva
- Alterações cervicais: Muco hostil
- Gravidez ectópica: Risco aumentado
Complicações na Gravidez
Riscos maternos:
- Aborto espontâneo: Primeiro trimestre
- Parto prematuro: Segundo/terceiro trimestre
- Ruptura prematura: Das membranas
- Corioamnionite: Infecção das membranas
Riscos fetais:
- Baixo peso: Ao nascimento
- Infecção neonatal: Transmissão vertical
- Pneumonia: Por Chlamydia
- Conjuntivite: Gonocócica ou clamidial
Quando Procurar Ajuda Médica
Sintomas de Alerta
Urgência médica:
- Dor pélvica severa
- Febre alta (>38°C)
- Sangramento intenso
- Náuseas e vômitos
Consulta ginecológica:
- Dor durante sexo persistente
- Corrimento anormal por >3 dias
- Sangramento pós-coital recorrente
- Sintomas urinários associados
Preparação para Consulta
Informações importantes:
- Início dos sintomas
- Características da dor
- Parceiros sexuais recentes
- Métodos contraceptivos
- Medicações em uso
Evitar antes da consulta:
- Relação sexual: 24-48 horas
- Duchas vaginais: 48 horas
- Medicações vaginais: Conforme orientação
- Menstruação: Reagendar se possível
Impacto na Vida Sexual
Consequências Psicológicas
Ansiedade sexual:
- Medo da dor: Antecipação negativa
- Evitação sexual: Redução da frequência
- Tensão muscular: Vaginismo secundário
- Baixa autoestima: Sentimentos de inadequação
Impacto no relacionamento:
- Comunicação prejudicada
- Frustração do parceiro
- Intimidade reduzida
- Conflitos conjugais
Estratégias de Enfrentamento
Comunicação:
- Conversar com parceiro: Sobre sintomas e limitações
- Expressar necessidades: Posições mais confortáveis
- Buscar compreensão: Mútua
- Explorar alternativas: Outras formas de intimidade
Adaptações práticas:
- Lubrificação adequada: Produtos de qualidade
- Posições confortáveis: Que reduzam pressão cervical
- Preliminares prolongadas: Aumentam lubrificação
- Ritmo mais suave: Reduz trauma
Prognóstico e Recuperação
Expectativas de Cura
Cervicite infecciosa:
- Taxa de cura: 90-95% com tratamento adequado
- Tempo de melhora: 1-2 semanas
- Resolução completa: 2-4 semanas
- Recorrência: Baixa com tratamento completo
Cervicite não infecciosa:
- Melhora gradual: Após remoção da causa
- Tempo variável: Conforme etiologia
- Tratamento hormonal: Resposta em 4-8 semanas
- Cuidados contínuos: Podem ser necessários
Fatores que Influenciam Recuperação
Positivos:
- Diagnóstico precoce
- Tratamento adequado
- Adesão à medicação
- Eliminação de fatores de risco
Negativos:
- Diagnóstico tardio
- Tratamento inadequado
- Reinfecção
- Condições imunossupressoras
Conclusão
A cervicite é uma causa importante e tratável de dor durante a relação sexual. O reconhecimento precoce dos sintomas e o tratamento adequado podem restaurar completamente o conforto sexual e prevenir complicações graves.
Pontos-chave para lembrar:
- A dor na relação sexual nunca deve ser ignorada
- A cervicite tem múltiplas causas, infecciosas e não infecciosas
- O diagnóstico correto orienta o tratamento específico
- A prevenção através de práticas sexuais seguras é fundamental
- O acompanhamento médico garante cura completa
Próximos passos:
- Observe sintomas como dor, corrimento ou sangramento
- Mantenha práticas sexuais seguras
- Não ignore dor persistente durante o sexo
- Consulte seu ginecologista para avaliação adequada
Tem dúvidas sobre dor na relação sexual ou cervicite? Deixe seu comentário abaixo. E se este conteúdo foi útil, compartilhe com outras mulheres que possam se beneficiar dessas informações.
Sobre a autora: Dra. Franciele Minotto é médica ginecologista e sexóloga com mais de 20 anos de experiência. Especialista em disfunções sexuais e saúde íntima feminina.
Tags: dor na relação sexual, cervicite, dispareunia, inflamação cervical, IST, dor pélvica, saúde sexual
Categoria: Saúde da Mulher, Saúde Sexual, Dica na Prática
Links internos sugeridos:
[Síndrome Geniturinária da Menopausa: Guia Completo]A cervicite é uma inflamação no colo do útero que pode causar sintomas como corrimento vaginal, dor ao urinar e sangramento. Essa inflamação geralmente é causada por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a clamídia e a gonorreia.
[Como tratar corrimento com cheiro ruim]
[O Papel dos Lactobacilos no Microbioma Vaginal]
[5 Dicas para Lidar com as Alterações Genitais da Menopausa]
Essa inflamação no colo uterino pode apresentar secreção purulenta e/ou sangramento fácil induzido pela manipulação no colo do útero, seja durante o exame ginecológico, coleta do preventivo ou até mesmo durante a relação sexual.
Como a cervicite não é uma doença de notificação compulsória e os sintomas clínicos ou critérios para diagnóstico não são totalmente padronizados, os achados variam bastante na literatura médica.
Sintomas da cervicite:
Em torno de 70 a 80% não apresentam sintomas, ou seja, são ditas assintomáticas. Nos casos sintomáticos as principais queixas são:
- Corrimento vaginal com ou sem odor forte e cor diferente do normal
- Dor ou ardência ao urinar
- Sangramento entre as menstruações ou após relaçao sexual
- Dor durante o sexo (chamada de dispareunia)
- Vontade de ir urinar com muita frequencia e urinar aos poucos (polaciúria)
- Dor pélvica crônica (cólicas abdominais frequentes mesmo fora da menstruação)
- Febre (infecção mais grave – caracterizando Doença Inflamatória pélvica ou endometrite)
Fatores de risco para cervicite:
- Mulheres sexualmente ativas com idade inferior a 25 anos;
- Novas ou múltiplas parcerias sexuais;
- Parcerias com infecção sexualmente transmissível (IST);
- História prévia ou presença de outra infecção sexualmente transmissível e
- Uso irregular de preservativo.
Causas da cervicite:
- Infecções sexualmente transmissíveis: Clamídia, gonorreia, tricomoníase;
- Irritantes químicos: Sabonetes, duchas vaginais e outros produtos químicos podem irritar o colo do útero.
- Trauma: Relações sexuais vigorosas ou inserção de objetos podem causar inflamação.
A infecção por clamídia é a infecção sexualmente transmitida (IST) bacteriana mais comum em países desenvolvidos como EUA e Reino Unido (Inglaterra).
A gonorreia é a segunda IST mais comum no Reino Unido e nos EUA. As taxas de infecção por gonorreia são maiores entre homens, em comparação com mulheres, no entanto, dados desde 2015 vem mostrando aumento de mais de 43% das taxas de infecção de gonorreia em mulheres.
Os organismos normalmente identificados nos casos de cervicite infecciosa predispõem a infecções ascendentes, ou seja, no útero, causando a doença inflamatória pélvica.
Organismos como Trichomonas vaginalis e o vírus do herpes simples (HSV) tipo 2, que afetam o epitélio escamoso da vagina, também podem estar relacionados à cervicite, não ocasionando, porém, infecções ascendentes isoladamente.
A Mycoplasma genitalium é uma causa emergente de infecções sexualmente transmissíveis em homens e mulheres no mundo inteiro, havendo uma correlação significativa entre a M. genitalium e a cervicite.
Diagnóstico:
No exame ginecológico pode estar presente dor a mobilização do colo uterino, material mucopurulento no orifício externo do colo, edema (inchaço) no colo uterino e sangramento ao toque da espátula ou swab.
As infecções por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae em mulheres, frequentemente, não produzem corrimento vaginal. Entretanto, se no exame ginecológico for constatada a presença de muco-pus no colo uterino ou teste do cotonete positivo (sangramento ao toque do cotonete) ou friabilidade do colo uterino (ou seja, colo amolecido e que se sangra facilmente) a mulher deve ser tratada para gonorreia e clamídia, pois são os agentes mais frequentes da cervicite.
O diagnóstico laboratorial da cervicite causada por C. trachomatis e N. gonorrhoeae por ser feito pela detecção do material genético dos agentes infeciosos (PCR ou captura híbrida) , identificação do gonococo na cultura em meio seletivo de THayer-Martin modificado) e recentemente liberado no Brasil o Teste Rápido para C. trachomatis.
Vale ressaltar que nenhum desses testes tem 100% de sensibilidade e especificidade. Ou seja, mesmo com testes negativos, se o quadro clínico é típico, deve-se tratar para evitar evolução para complicações.
Principais Complicações quando não tratadas:
- Dor pélvica persistente
- Doença Inflamatória Pélvica
- Gravidez ectópica (gravidez na trompa)
- Infertilidade
- Partos prematuros (quando a mulher está grávida)
- Ruptura prematura de membranas ovulares na gravidez
- Óbito fetal
- Retardo de crescimento intra uterino
- Endometrite puerperal (infecção do útero pós parto)
- Conjuntivite e pneumonia do Recém nascido
Abaixo o fluxograma de investigação de cervicite defendido pelo Ministério da Saúde.

Tratamento:
O tratamento da cervicite varia de acordo com a causa da infecção e é feito com antibióticos. É importante que o parceiro sexual também seja tratado para evitar a reinfecção.
O objetivo do tratamento é prevenir sequelas da doença, como doença inflamatória pélvica,
abscesso tubo-ovariano, gravidez ectópica e infertilidade. Durante a gestação, os objetivos do tratamento também incluem a prevenção de complicações periparto e infecções neonatais.
O tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde para Clamídia e Gonorreia está demonstrado no quadro, lembrando que todos os medicamentos são antibióticos e necessitam de receita médica dupla via (especial) para serem disponibilizados tanto no sistema público quanto privado.

Antibióticos administrados em dose única são preferíveis no caso de pacientes gestantes ou nas mulheres que não conseguem manter a aderência ao tratamento.
Em relação aos parceiros sexuais das mulheres com cervicite, devem ser empregados todos os esforços para garantir que os parceiros sexuais da paciente nos últimos 60 dias sejam avaliados e tratados com o esquema recomendado. No mínimo, o parceiro sexual mais recente deve ser tratado.
As relações sexuais devem ser evitadas por 7 dias após o tratamento.
Azitromicina oral é o agente de primeira escolha para a infecção por clamídia. No entanto, em 2018,
as diretrizes do Reino Unido foram atualizadas para recomendar doxiciclina como tratamento
de primeira linha para qualquer infecção por clamídia diagnosticada, independente do local anatômico.
Para infecção gonocócica o tratamento de primeira linha é ceftriaxona intramuscular em dose única.
O metronidazol e o tinidazol são os únicos medicamentos reconhecidamente eficazes no tratamento da tricomoníase.
As opções de tratamento de primeira linha da vaginose bacteriana incluem metronidazol por via oral ou vaginal e clindamicina em creme intravaginal. Tinidazol ou secnidazol e preparações orais ou óvulos intravaginais de clindamicina são opções de segunda linha.
O CDC (Center for Disease Control and Prevention) em seu guia publicado em 2021 sugere como tratamento para cervicite:

Com suspeita de gonorreia recomendam:

Para prevenir a conjuntivite do recém nascido são usados o Nitrato de prata a 1% ou a tetraciclina, na primeira hora após o nascimento, em todas as maternidades do país, como recomendação do Ministério da Saúde.

Prevenção:

- Use camisinha: A camisinha é a forma mais eficaz de prevenir a cervicite e outras ISTs, apesar de não proporcionar 100% de proteção a recomendação é a proteção combinada.
- Faça testagem para IST regularmente: são disponibilizados testes rápidos de sífilis, HIV, Hepatite B e C nas unidades básicas de saúde.
- Evite duchas vaginais: As duchas vaginais alteram o pH natural da vagina e podem aumentar o risco de infecções.
- Comunique-se com seu parceiro: Converse com seu parceiro sobre a importância do uso de preservativo, da realização de exames regulares e da importância de zelar por um relacionamento com lealdade e confiança.
É importante lembrar que a cervicite, se não tratada, pode levar a complicações sérias, como doença inflamatória pélvica, infertilidade e gravidez ectópica.
Procure um ginecologista regularmente para cuidar da sua saúde sexual.
Lembre-se: Este é apenas um guia geral. Consulte sempre um médico para obter um diagnóstico preciso e tratamento adequado.
Veja o vídeo onde aprofundo sobre a questão de cervicite crônica e metaplasia de colo uterino.
Para cuidados de higiene da região íntima recomendo os produtos e atitudes abaixo relacionados:
Os hábitos que sugiro para prevenir ajudar no tratamento e prevenção de alterações vaginais como candidíase e vaginose bacteriana são:
- 1. Usar calcinhas totalmente de algodão pois elas absorvem a umidade e deixam o ar passar por entre suas fibras, ou seja, a região fica mais ventilada. Separei alguns modelinhos que recomendo abaixo:
https://amzn.to/40Lpcjr – https://mercadolivre.com/sec/2rng5U8 – para meninas
https://amzn.to/40OrHSb – https://mercadolivre.com/sec/1oSYYAA – Essa eu uso
https://mercadolivre.com/sec/2VA1XvQ
https://mercadolivre.com/sec/125yRBE
https://amzn.to/3PQCN2x – esta recomendo no pós parto cesárea
- 2. Higiene íntima com sabonete líquido ou shampoos com pH balenceado: quanto menos odor e menos alteração do pH tiver o sabonete melhor, prefiro os líquidos pois não deixam resíduo nos pelos e pele, são mais fáceis de enxaguar. Nao recomendo sabonetes íntimos, são produtos nichados que não buscam a não agressão, pensem, quanto mais propaganda um produto precisa fazer, menos cumpre o que promete. Indico os abaixo para higiene íntima:




- https://mercadolivre.com/sec/1yUWXz3
- https://mercadolivre.com/sec/1StCiTU
- https://mercadolivre.com/sec/2mDib6h
- https://mercadolivre.com/sec/2uZAkFW
- 3. Evitar ficar com roupa de banho (biquini, maiô, body), principalmente molhada, por longos períodos.
- 4. Evitar lavar roupa íntima com sabão em pó, amaciante ou alvejantes, preferir sabão líquido de preferência neutro ou de côco. Lave as roupas íntimas separadas, ou seja, não coleque na máquina com outras peças. Algumas indicações de sabão para roupas íntimas e delicadas:
https://amzn.to/4jxvgmX https://amzn.to/42uPnMp
https://mercadolivre.com/sec/1GZLo5R
https://mercadolivre.com/sec/2jpewMT
https://mercadolivre.com/sec/2YwQKEg
https://mercadolivre.com/sec/1XtciVd
https://mercadolivre.com/sec/1L4HUKy
Lembre-se, este post não é uma consulta médica e não substitui uma consulta médica. Sempre consulte seu médico de confiança antes de usar medicamentos pois eles podem ter contraindicações conforme suas comorbidades ou o diagnóstico que para você com certeza parece uma coisa, após o exame físico ou exames complementares pode ser outra doença completamente diferente do que você pensa.
Espero ter ajudado.
Fontes: