A candidíase vaginal é seguramente um dos diagnósticos mais frequentes na prática diária dos ginecologistas. Na prática, caracteriza-se por um processo infeccioso agudo, manifestando-se com maior ou menor sintomatologia, na dependência do grau de inflamação da mucosa e da pele vulvovaginal. 

Acredita-se que cerca de 75% das mulheres adultas apresentem pelo menos um episódio de vulvovaginite fúngica em sua vida e que 40-50% apresenterão um novo surto. Entre as gestantes é o primeiro motivo de consulta extra durante o pré-natal.

Os episódios de recorrência acometem pelo menos 5 a 10% das pacientes e podem se manifestar até mensalmente em alguns casos, sendo a Candida albicans o principal agente etiológico encontrado (entre 80 a 92% dos casos). Entretanto, a Candida glabrata poderá ser a causa da recorrencia, ela é menos susceptível a ação dos fungicidas, sendo de difícil tratamento.

Alguns fatores de risco têm sido associados a vaginite pela Candida Glabrata (a mais difícil de ser tratada) entre eles: senilidade, diabetes, imunossupressão e exposição a fungicidas azólicos. Outro fator predisponente para a Candida glabrata parece ser o pH vaginal.  A vaginite por Candida glabrata cursa com reação inflamatória menos intensa, dispareunia (dor na relação sexual) e queimação.

Entre 10 a 20% das mulheres saudáveis e completamente assintomáticas apresentam culturas vaginais positivas para C. albicans (o tipo de candida mais comum); ou seja, qualquer mulher pode estar suscetível a colonização vaginal por Candida, mesmo aquelas sem queixas.

Quando existe um desbalanceamento do ecosistema (flora vaginal – bacterias que fazem parte da defesa vaginal como os lactobacilos) em que se encontra, ele pode tirar vantagem da situação e se tornar invasivo.

Concluindo, a candida é um fungo que pode ser encontrado em pessoas saudáveis na maior parte do corpo humano, como pele, mucosa gastrointestinal (oral, esofágica e anal) e mucosa vaginal, sem necessariamente causar danos.

Os fungos chegam a vagina vindo da região perianal, assim como por objetos inertes e mais raramente pela via sexual. Altos índices hormonais de estrógeno favorecem a infecção fúngica.

A gravidez e o uso de anticoncepcionais com alta dose de estrogênio são fatores de risco para a candidíase vaginal, assim como a diabetes descompensada o uso de antibióticos e/ou cortióides; o aumento do cortisol causado pelo estresse, obesidade, uso de imunossupressores ou quimio/radioterapia, alterações da resposta imunológica e infecção pelo HIV. O vestuário, utilização de tecidos sintéticos, desodorantes, absorventes perfumados e materiais de higiene íntima podem contribuir para a instalação da candidíase  por estimularem uma resposta alérgica, favorecendo a implantação da vulvovaginite, inclusive crônica, isso porque o contato com substâcias alergênicas ou irritantes como talcos, perfumes, sabonetes ou desodorantes íntimos pode provocar alterações inflamatórias defensivas.

A boa notícia é que a maioria das vulvovaginites por candida não são complicadas e respondem a vários esquemas terapêuticos. No entanto, 5% das mulheres apresentam inabilidade de controle do processo agudo, o que leva a instalação da forma recorrente.

A candidiase vulvovaginal complicada apresenta pelo menos uma dessas características: sintomas intensos, frequencia recorrente (mais de 4 episódios em 12 meses), agente etiológico não albicans 9Glabrata, kruzei), presença de comorbidades (diabetes, HIV) ou gestação.

Diagnóstico da candidíase vulvovaginal

A candidiáse vulvovaginal clássica apresenta prurido (coceira), ardência, corrimento geralmente grumoso (tipo paple molhado ou leite talhado), sem odor, dispareunia de intróito (dor no início da penetração) e disúria externa (dor/ardência ao urinar, principalmente quando a urina entra em contato com a vulva/vagina). A vulva pode apresentar-se avermelhada, edemaciada, com escoriações e fissuras (pequenas rachaduras na pele). Caso verifique o pH vaginal este estará menor de 4,5.

Em casos atípicos deve-se realizar cultura vaginal de fungo. São diagnósticos diferenciais que o profissional de saúde deverá levar em consideração: líquen esclerosos, vestibulite, dermatite vulvar, vulvodínea, vaginite citolítica, vaginite inflamatória descamativa, formas atípicas de herpes genital e reações de hipersensibilidade.

Como tratar candidíase vulvovaginal

Conforme o Manual do Ministério da Saúde a primeira opção de tratamento é o creme vaginal de Miconazol a 2% e outros derivados imidazólicos (fenticonazol, clotrimazol, tinidazol, butoconazol) via vaginal, um aplicador cheio a noite, ao deitar-se, por 7 dias OU Nistatina 100.000 UI, uma aplicação via vaginal, a noite ao deitar-se, por 14 dias.

A segunda opção indicada é o Fluconazol 10 mg via oral em dose única OU Itraconazol 100 mg, 2 comprmidos via oral 2 vezes ao dia (12/12h) por 1 dia.

Para candidíase vaginal complicada ou recorrente indica-se como dose de ataque: Fluconazol 150 mg via oral 1 vez ao dia nos dias 1, 4 e 7 OU Itraconazol 100 mg 2 comprmidos via oral de 12/12h por 1 dia OU Miconazol creme vaginal tópico diário por 10 a 14 dias. Para manutenção indica-se: Fluconazol 150 mg via oral 1 vez por semana por 6 meses OU Miconazol creme vaginal tópico 2 vezes por semana ou òvulo Vaginal 1 vez por semana durante 6 meses.

O tratamento de gestante e mulheres que amamentam somente é realizado pela via vaginal. O tratamento oral está contraindicado para este grupo.

O tratamento do parceiro sexual só está indicado se ele estiver sintomático (coceira, manchas avermelhadas, sensação de ardência peniana).

A recomendação de tratamento do CDC/2021 que baseia a recomendação do Ministério da saude é a seguinte:

Todas as medicações relacionadas ao tratamento da candidíase vulvovaginal pode ser compradas sem receita médica no Brasil.

Na minha prática de consultório apesar de estar indicado tratamento oral ou vaginal geralmente associo os dois pois ao usar o antifúngico os sintomas pioram gerando a falsa impressão que o problame piorou ou que houve uma reação alérgica ao medicamento local por exemplo. No primeiro episódio a preferência é o fluconaozl 150 mg dose única e o creme vaginal miconazol 7 dias ou nistatina 100.000Ui 10 a 14 dias (dificilmente prescrevo Nistatina, mas ela é distribuída gratuitamente pelo SUS, no entanto será necessária a receita médica para a retirada).

O clotrimazol creme vaginal ou óvulo vaginal também faz parte das minhas estratégias, tanto uso apaenas na vulva quanto uso vulvovaginal. Particulamente não sou fã de fenticonazol, e para as apressadas e com mais dinheiro a disposição uso o butoconazol (Gynazole 1) que é um creme vaginal com uma tecnologia diferenciada e necessita apenas uma aplicação.

Os hábitos que sugiro para prevenir a recorrência e ajudar no tratamento do episódio de candidíase e vaginose bacteriana são:

  • 1. Usar calcinhas totalmente de algodão pois elas absorvem a umidade e deixam o ar passar por entre suas fibras, ou seja, a região fica mais ventilada. Separei alguns modelinhos que recomendo abaixo:

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  • 2. Higiene íntima com sabonete líquido ou shampoos com pH balenceado: quanto menos odor e menos alteração do pH tiver o sabonete melhor, prefiro os líquidos pois não deixam resíduo nos pelos e pele, são mais fáceis de enxaguar. Nao recomendo sabonetes íntimos, são produtos nichados que não buscam a não agressão, pensem, quanto mais propaganda um produto precisa fazer, menos cumpre o que promete. Indico os abaixo para higiene íntima:

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higiene íntima com sabonete/shampoo glicerinado
  • 3. Evitar ficar com roupa de banho (biquini, maiô, body), principalmente molhada, por longos períodos.
  • 4. Evitar lavar roupa íntima com sabão em pó, amaciante ou alvejantes, preferir sabão líquido de preferência neutro ou de côco. Lave as roupas íntimas separadas, ou seja, não coleque na máquina com outras peças. Algumas indicações de sabão para roupas íntimas e delicadas:

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Lembre-se, este post não é uma consulta médica e não substitui uma consulta médica. Sempre consulte seu médico de confiança antes de usar medicamentos pois eles podem ter contraindicações conforme suas comorbidades ou o diagnóstico que para você com certeza parece uma coisa, após o exame físico ou exames complementares pode ser outra doença completamente diferente do que você pensa.

Espero ter ajudado.

O tratamento de candidíase de repetição merece um post específico! Em breve!

Você sofre com candidíase ou conhece alguém que sofre com candidíase? Envie esse post para ajudar mais pessoas a tratar esse incômodo comum na vida das mulheres.

Dei uma resumida disso tudo nesse vídeo do youtube:

Fontes:

  1. https://www.cdc.gov/std/treatment-guidelines/default.htm
  2. https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf

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